Novo motor com taxa de compressão variável pode salvar os motores flex
A injeção direta de combustível representou um grande avanço para os
motores turbo no que diz respeito à eficiência e desempenho, por
praticamente eliminar o turbo lag – tempo que leva para turbocompressor
"encher" e começar a comprimir o ar para dentro do motor.
O próximo passo neste sentido está nas mãos da Infiniti, marca premium
da Nissan que acaba de mostrar o primeiro motor de produção do mundo com
taxa de compressão variável. Esta poderá ser, no futuro, a solução
definitiva para que motores flex sejam mais eficientes.
Antes de mais nada, vale falar rapidamente sobre o que é a taxa de
compressão. Tomemos por exemplo um motor 1.6 de quatro cilindros, no
qual cada cilindro tem volume 400 cm³ quando o pistão está na posição
mais baixa (ponto morto inferior) e 40 cm³ na posição mais alta (ponto
morto superior). Daí surge a razão de compressão, que neste caso é de
dez vezes ou 10:1.
O que a Infiniti fez foi encontrar uma forma eficiente de variar esta
taxa de compressão, algo que diversas empresas já tentaram de diversas
formas. A sueca Saab, por exemplo, apresentou em 2000 o sistema SVC, que
usava a variação de inclinação do cabeçote em relação ao bloco do motor
para aumentar ou diminuir a taxa de compressão - as pesquisas neste
sentido pararam quando a General Motors comprou a fabricante sueca. Já a
americana FEV demonstrou no ano passado uma forma de variar a taxa
colocando um eixo excêntrico na conexão dos pistões com as bielas,
variando sua altura quando necessário.
Complexo, o sistema da Infiniti chama-se VC-T (de compressão variável
turbocomprimida) e funciona aumentando e diminuindo o curso dos pistões
diretamente no virabrequim, onde as bielas se conectam. Uma engrenagem
harmônica comanda um braço, que gira um eixo e este ajusta a inclinação
do virabrequim.
A tecnologia foi aplicada em um motor quatro cilindros 2.0 turbo.
Nele, as taxas de compressão variam entre 8:1 e 14:1. A primeira é a que
resulta em maior desempenho para motores turbo, que trabalham com uma
pressão extra de admissão, enquanto a segunda se torna mais eficiente na
queima do combustível em regimes de menor rotação, justamente quando o
turbo lag ganha a cena. O resultado são 274 cv de potência e torque de
39,82 mkgf, números que o credencia para substituir o motor V6 3.5 do
GX80 a partir de 2018.
Na prática, o motor consegue ajustar o momento da ignição e o tamanho
da câmara de combustão de acordo com suas necessidades para o momento.
Hoje, para amenizar a falta de força antes do turbo entrar em ação (e
olha que os turbocompressores evoluíram muito nos últimos anos), o que
as fabricantes conseguem fazer é alternar entre o uso de injeção direta e
indireta, e, mais recentemente, usar turbocompressores com geometria
variável, ou seja, que conseguem adaptar sua atuação de acordo com as
necessidades do motor. Hoje, quem usa as duas tecnologias juntas é o
Grupo Volkswagen.
O novo motor da Infiniti é um dos mais complexos já feitos e seu
desenvolvimento está em curso desde 1998. A fabricante japonesa o trata
como um novo passo na história dos motores a combustão. Além do consumo
de combustível significativamente reduzido, as emissões menores, os
níveis de ruído e vibração reduzidos e o fato de ser leve e compacto
mostram o quão inovador ele é.
Mas onde entram os motores flex? Simples. A taxa de compressão ideal
para a queima de etanol e de gasolina varia: a gasolina prefere taxa
menor, de até 10,5:1, enquanto o poder calorífico do etanol é melhor
aproveitado com taxa entre 11,5:1 e 12,5:1. O que as fabricantes fazem
hoje no Brasil é estabelecer uma taxa de compressão intermediária para
os dois combustíveis, o que muitas vezes ajuda a explicar o consumo
maior de motores flex frente às suas versões a gasolina.
Com a taxa de compressão variável, seria possível explorar o melhor de
cada combustível e, assim, encontrar números de consumo e emissões
menores. Bastaria para isso trabalhar a variação de taxa em função do
combustível que está no tanque. Mas isso é algo que só deveremos ver na
prática na próxima década - isso, claro, se os custos de produção de tal
motor permitirem sua popularização.
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